Um novo estudo mostrou que é possível melhorar os sintomas – ou até evitar – a presbiopia a partir de uma série de exercícios visuais
Uma nova forma de treinamento visual pode retardar o aparecimento da presbiopia, condição popularmente conhecida como vista cansada. O problema consiste na perda do foco da ‘visão de perto’, atrapalhando atividades diárias como leitura, e ocorre devido ao envelhecimento. De acordo com estudo publicado no periódico científico Journal of Vision, fazer exercícios de desempenho visual, de forma contínua, também pode reduzir os sintomas.
A melhoria do desempenho visual é resultado de treinos com determinados estímulos. O principal mecanismo utilizado baseia-se na observação de imagens, conhecidas como filtros de Gabor, em diferentes situações. Os filtros de Gabor estimulam, de forma otimizada, a parte do cérebro responsável pela visão. Grande parte do treinamento envolve a tentativa de observar os filtros colocados entre pequenas distâncias. O espaçamento entre eles é alterado, o contraste do alvo é reduzido e as imagens são piscadas em uma tela por frações de segundo, dificultando a visualização.
Alguns especialistas expressaram ceticismo quanto a eficácia, mas outra série de estudos forneceu provas de que ele pode melhorar a acuidade visual, sensibilidade ao contraste e velocidade de leitura. Um estudo, publicado na revista Nature, também examinou funções do próprio olho e descobriu que nenhuma dessas melhorias se deram por conta de alterações oculares, mas sim do cérebro. Outro estudo testou a abordagem da técnica em 23 adultos, com cerca de 24 anos. Comparado com um grupo controle com outros 20 jovens, o grupo de tratamento aumentou a velocidade de reconhecimento de letras. Um treinamento parecido é efetivo no tratamento da ambliopia, também conhecida como ‘síndrome do olho preguiçoso’, que é a causa mais frequente da perda de visão em bebês e crianças, afetando 3% da população. Ele também pode melhorar a visão entre aqueles com miopia leve.
De acordo com informações do The New York Times, alguns dos pesquisadores destes estudos foram apontados como beneficiários financeiros do aplicativo GlassesOff, que oferece um programa com os treinos. No entanto, outros estudos sem ligações comerciais obtiveram resultados semelhantes. Uma pesquisa publicada no periódico Psychological Science treinou 16 adultos em idade universitária e 16 adultos mais velhos, por volta de 71 anos, com exercícios com filtros de Gabor por 1,5 hora por dia durante sete dias. Após o treinamento, a capacidade dos adultos mais velhos de enxergar imagens de baixo contraste melhorou.
A crescente dificuldade de leitura, principalmente de letras pequenas, que começa na meia-idade é chamada presbiopia. A cada cinco anos, um adulto acima de 30 anos perde a capacidade de ver uma das linhas nos gráficos de leitura utilizados em consultórios de oftalmologia. A presbiopia afeta aproximadamente 80% dos adultos, por volta dos 45 anos de idade. Aos 50 anos, alguns já se preparam para o uso de lentes bifocais ou têm o costume de afastar o objeto de leitura, seja um livro ou o próprio celular, para conseguir enxergar melhor.
Os cientistas não sabem exatamente como o aprendizado perceptivo ajuda a melhorar a presbiopia, mas existem algumas pistas baseadas em como nosso cérebro processa essa informação visual. Depois de captar os dados de uma imagem, diferentes conjuntos de neurônios processam características separadas como bordas e cores. Em seguida, o cérebro coordena essas respostas para transformar essas características em algo reconhecível, como objetos, rostos, letras ou palavras. Em um ritmo normal de leitura, o cérebro tem cerca de 250 milissegundos para automaticamente identificar letras e palavras. Uma vez que o faz, está apto para receber a informação seguinte. Se o conjunto anterior de informações ainda não foi processado, a compreensão da próxima etapa fica comprometida.
O tempo de processamento visual pode ser desafiado e retardado por certos ruídos, como o baixo contraste ou fontes pequenas, por exemplo. Existe uma cadeia de processamento no cérebro enquanto ele tenta construir e, em seguida, compreender uma imagem. Portanto, aumentar e acelerar essa capacidade – através da aprendizagem perceptual – pode melhorar diversas funções da visão.
O que surpreende, segundo os cientistas, é que isso é possível em cérebros adultos. A neuroplasticidade – a capacidade das funções de processamento do cérebro de mudar para adquirir novas habilidades – é frequentemente associada à infância. Ela ainda é mais presente em crianças do que em adultos, mas para algumas habilidades, incluindo a visão, o cérebro pode ser mais adaptável do que se pensava.